sábado, 7 de março de 2015

UM SONETO

Não vim no primeiro dia
à aula do dia de Reis
Fui à consulta, não podia
Em Janeiro e foi a seis.

Eu venho à Poesia e Conto
Terças-feiras com a professora Zulmira
Para ouvi-la é um encanto
Que bem que ela nos mira

De Vaz de Camões à Poesia
Toda a gente ler mais deve
E do António Gedeão dizia

E a Balada da Neve
A Barca Bela tudo ouvia
para dizermos contos e poesia ela pede.

M.F.L.  2 /2/ 2015.


Observação: A D. Maria Feliciana Leitão faz poesia há muitos anos, faz décimas, quadras e outros géneros.
Na aula de Poesia e Conto ouviu ler sonetos e falar de sonetos, então tentou fazer um e é este o primeiro soneto de muitos que irá fazer. Parabéns D. Maria é um prazer tê-la como aluna. profª Zuzu



QUADRAS MARIA FELICIANA LEITÃO


DÉCIMAS INOCÊNCIO FAZERES


DÉCIMAS INOCÊNCIO FAZERES


DUAS LINDAS QUADRAS


DÉCIMAS MARIA FELICIANA LEITÃO


DÉCIMAS INOCÊNCIO FAZERES


DÉCIMAS DE MARIA FELICIANA LEITÃO


sexta-feira, 6 de março de 2015

sábado, 28 de fevereiro de 2015

A DIABETES - MITOS E VERDADES

A Universidade Sénior de Sousel promoveu, na passada terça-feira, dia 27 de janeiro a segunda "Conversa do Mês", desta vez subordinada ao tema "Diabetes - Mitos e Verdades". A sessão foi dinamizada pelas Professoras Joana Cabeça dos Reis e Zulmira Baleiro e contou com a participação do Enfermeiro José Pascoal e da Enfermeira Estagiária Isabel Cunha.
Publicamos, em baixo, o testemunho da Prof. Joana Cabeça dos Reis.


No passado dia 27 de Janeiro, no Auditório da Biblioteca Municipal de Sousel, pelas 15h30, realizou-se mais "Uma conversa por mês".
A iniciativa que, como o nome indica, ocorre todos os meses, insere-se no projeto da Universidade Sénior de Sousel e visa, não só, alargar os conhecimentos dos participantes, como proporcionar-lhes momentos de debate, troca de experiências e convívio, contribuindo, deste modo, para que o isolamento, a solidão e a ausência de objetivos não encontrem espaço nas suas vidas.
Este mês, o tema em análise foi " A DIABETES- MITOS e VERDADES ".
Como não poderia deixar de ser, recorremos à ajuda do Centro de Saúde de Sousel que, de imediato, se disponibilizou para dinamizar a sessão, assumindo, integralmente, a orientação da mesma.
Durante cerca de 2 horas, os Enfermeiros José Pascoal e Isabel Cunha, alternando a exposição de conceitos científicos com dicas e esclarecimentos de natureza prática, sempre em interação com os participantes, foram informando quanto à tipologia da DIABETES, as causas e os efeitos, realçando a importância da prevenção, bem como os procedimentos a observar, por parte dos portadores da doença.
Mereceu particular enfoque, a ideia de que, a exemplo de outras doenças crónicas, um diabético pode ter uma vida longa e com qualidade, se optar por uma alimentação saudável, praticar exercício físico e não descurar nem o autocontrole da doença nem a medicação, conforme prescrição médica.
Tendo como suporte da intervenção um estudo académico da autoria da técnica Isabel Cunha, recentemente licenciada em Enfermagem, entrecruzaram-se o entusiasmo e o empenho desta, com o saber de experiência feito e os dotes de comunicação do enfermeiro Pascoal, em funções há quase três décadas e Especialista em Saúde Comunitária.
Ao Centro de Saúde de Sousel e, em particular aos dois técnicos intervenientes, a Universidade Sénior de Sousel, agradece a preciosa colaboração, aproveitando para expressar à Enfermeira Isabel, votos das maiores felicidades na nobre missão que, com exemplar dinamismo, decidiu abraçar.
A todos os participantes, o nosso muito obrigado por nos dizerem, com a sua presença e motivação, que vale a pena levar por diante, estas e outras iniciativas de âmbito Sóciocultural.
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

FLORBELA ESPANCA - BIOGRAFIA


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo baptizada, com o nome de Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como filha de Antónia da Conceição Lobo e de paiincógnito. É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.
Conclui a instrução primária em Junho de 1906, entrando para o actual sexto ano de escolaridade em Outubro do mesmo ano. No ano seguinte, Florbela aponta os primeiros sinais da sua doença, a neurastenia; além disso, escreve o seu primeiro conto, «Mamã!». Em 1908, Antónia Lobo, a mãe de Florbela morre vítima de neurose, após o que a família se desloca para Évora, para Florbela prosseguir os seus estudos no Liceu André Gouveia, com o chamado Curso Geral do Liceu, cuja sexta classe (próxima do 10º ano actual) completa em 1912. Entretanto, em 1911, começa a namorar com Alberto Moutinho, mas acaba por se afastar deste, em virtude de uma nova paixão por José Marques, futuro director da Torre do Tombo. Após romper com este, no ano seguinte, Florbela reata o namoro com Alberto Moutinho e, a 8 de Dezembro, uma vez emancipada, casa com ele, pelo civil, aos 19 anos.
Em 1914, apesar de algumas dificuldades económicas, o casal muda-se para o Redondo, na Serra d'Ossa, onde abre um colégio e lecciona. Numa festa do colégio, Florbela recita, pela primeira vez, versos seus em público. É no ano seguinte que Florbela inicia o seu caderno «Trocando Olhares», que completa ao longo de cerca de um ano e meio. Em 1916, a revista «Modas e Bordados» publica o soneto «Crisântemos», cheio de alterações ao original, e Florbela torna-se amiga da directora e da sub-directora da revista, Júlia Alves, com quem, aliás, inicia correspondência. Alguns meses depois, torna-se colaboradora do jornal «Notícias de Évora», e desiste de um projecto intitulado «Alma de Portugal», um livro de acentuada carga patriótica, e que conteria as partes «Na Paz» e «Na Guerra».
Em 1917, após ter regressado a Évora, Florbela completa o actual 11º ano do Curso Complementar de Letras, com catorze valores; apesar de querer seguir essa área, acaba por se inscrever, em Outubro, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o que a obriga a mudar-se para Lisboa, onde começa a contactar com a vida boémia. Na sequência de um aborto involuntário, em 1919, Florbela tem de se mudar para Quelfes, perto de Olhão, onde apresenta os primeiros sintomas sérios de neurose. Pouco depois, o seu casamento desfaz-se e Florbela decide ir para Lisboa prosseguir o curso, separando-se do marido, e passando a conhecer a rejeição da sociedade. Em Junho de 1919, depois de alguma correspondência trocada com Raul Proença, sai a lume o «Livro de Mágoas»; posteriormente, completa o terceiro ano de Direito. No ano seguinte inicia «Claustro das Quimeras»; simultaneamente, passa a viver com António Guimarães, em Matosinhos, com quem se casa em 1921, após o primeiro divórcio.
De volta a Lisboa, em 1923, Florbela vê publicado o «Livro de Soror Saudade», mas tem de se mudar rapidamente para Gonça, perto de Guimarães, para se tratar de um novo aborto. Assim, Florbela separa-se do marido, que pede o divórcio, oficializado em 1924; isso leva a que a família de Florbela não lhe fale durante dois anos, o que a abala muito.
Em 1925, depois de se ter mudado para a casa de Mário Lage em Esmoriz, casa com ele, pelo civil e, depois, pela Igreja. Dois anos depois, enquanto Florbela traduz romances franceses para a Livraria Civilização no Porto (que publica oito trabalhos seus), e prepara «O Dominó Preto», o seu irmão falece, o que a torna uma mulher triste e desiludida e inspira «As Máscaras do Destino». Enquanto a relação com o marido se desgasta progressivamente, a neurose de Florbela agrava-se bastante; é neste período que, possivelmente, se apaixona pelo pianista Luís Maria Cabral, a quem dedica «Chopin» e «Tarde de Música»; talvez por isso, tenta suicidar-se. Em 1929, Florbela passa por Lisboa, onde lhe é recusada a participação no filme «Dança dos Paroxismos», de Jorge Brum do Canto, e segue para Évora, onde, em 1930, começa a escrever o seu «Diário do Último Ano». Passa, então a colaborar nas revistas «Portugal Feminino» e «Civilização», e trava conhecimento com Guido Battelli, que se oferece para publicar «Charneca em Flor». Já em Matosinhos, Florbela revê as provas do livro, depois da segunda tentativa de suicídio, em Outubro ou Novembro, período em que a neurose se torna insuportável e lhe é diagnosticado um edema pulmonar. A 8 de Dezembro, dia do nascimento e do primeiro casamento, Florbela suicida-se, cerca das duas horas, com dois frascos de Veronal.

www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/biografia.html

TRÊS SONETOS DE FLORBELA ESPANCA

SE TU VIESSES VER-ME...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti... 
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" 
AMAR!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
 
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" 

PERDI OS MEUS FANTÁSTICOS CASTELOS

Perdi meus fantásticos castelos 
Como névoa distante que se esfuma... 
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: 
Quebrei as minhas lanças uma a uma! 

Perdi minhas galeras entre os gelos 
Que se afundaram sobre um mar de bruma... 
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? – 
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma! 

Perdi a minha taça, o meu anel, 
A minha cota de aço, o meu corcel, 
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias... 

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas... 
Sobre o meu coração pesam montanhas... 
Olho assombrada as minhas mãos vazias... 

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

AS TÚNICAS DE URTIGAS

Numa terra muito distante, havia um rei bondoso e sábio, que tinha uma linda filha, chamada Lúcia e onze filhos, todos belos e inteligentes. O soberano, que já estava velho e cansado, amava ternamente sua esposa e seus filhos.
Infelizmente, a rainha morreu, e o rei, sentindo-se triste e solitário, resolveu casar-se com a viúva de seu primo, que tinha sido o soberano de um país vizinho.
A felicidade, que até então reinava no palácio, desapareceu. A nova rainha, que era uma feiticeira perversa, conseguiu dominar o velho rei. A primeira coisa que ela fez foi afastar Lúcia do palácio, mandando-a para a casa de uns lenhadores, que moravam numa floresta longínqua.
Quanto aos onze príncipes, tantas mentiras a bruxa disse a seu respeito, que o rei acabou não querendo mais vê-los. Então, a feiticeira resolveu encantar os meninos. Depois de fazer uma porção de gestos mágicos, disse para os príncipes:
Voai, ligeiros, longe de nós, transformai-vos em aves, aves sem voz!
Os rapazes transformaram-se em cisnes brancos e saíram voando pelo céu afora. Eles deviam seguir para um lugar determinado pela bruxa. Durante a viagem, procuraram passar sobre a casinha da floresta, onde estava a irmãzinha. Mas já anoitecia. Por isso, embora tivessem batido as asas com força, não conseguiram acordá-la.
Quando Lúcia completou quinze anos, teve permissão para ir ao palácio. Assim que a rainha a viu, ficou louca de inveja e de raiva. A menina era de uma beleza deslumbrante. A bruxa quis transformá-la logo em cisne, e só não o fez porque o rei desejava vê-la. Resolveu esperar uma ocasião mais oportuna para lhe fazer mal.
Lúcia costumava nadar no lago que havia junto ao palácio. Um dia, antes de ela chegar ao lago, para lá dirigiu-se a rainha, levando consigo três sapos horríveis.
Na margem do lago, atirou o primeiro sapo para a água, dizendo: Quando Lúcia estiver a nadar, salta na cabeça dela, para a fazer tão estúpida como tu!
Quando atirou o segundo sapo, berrou: Salta no rosto de Lúcia, para a fazer tão feia como tu!
E, quando atirou o terceiro sapo, berrou: — Fica perto do coração de Lúcia, para que se torne perversa e má!
Os sapos fizeram tudo o que a rainha ordenou. Quando a menina saiu do lago, mais parecia um bicho que um ser humano. Ao vê-la, o rei ficou horrorizado. E mandou que ela voltasse para a floresta.
É bom lembrar que Lúcia ficou muito feia, mas não se tornou má. O sapo não conseguiu modificar o seu coração bondoso. Tendo sido desprezada pelo seu pai, a jovem resolveu sair à procura dos seus queridos irmãos.
Viajou dias e dias, atravessando montes, vales e cidades. Durante a viagem, encontrou, numa floresta, uma velha faminta que lhe pediu um pedaço de pão. Lúcia deu-lhe pão, com prazer, e ainda foi apanhar, no riacho, um pouco de água para matar a sede da velhinha.
Esta, que era Nossa Senhora disfarçada, mandou que Lúcia comesse uma frutinha silvestre que crescia à beira do ribeiro. A moça obedeceu e, no mesmo instante, desencantou-se, voltando à sua beleza natural.
Lúcia continuou a viagem. No meio do caminho, encontrou um velhinho a quem deu o seu último pedaço de pão. Perguntou-lhe, então, se tinha visto onze príncipes tão belos como o sol. O velho respondeu: — Que coincidência! Não vi os onze príncipes. Mas vi onze cisnes belíssimos, cada qual com uma coroa na cabeça!
E mostrou o lugar onde vira as lindas aves. A princesa seguiu para lá, sentou-se e ficou à espera o dia inteiro. Quando o sol começou a desaparecer no horizonte, a moça ouviu um barulho de asas. Olhou para o céu e viu surgir onze cisnes voando apressadamente. Pousaram na terra e esconderam-se sob uma moita. Lúcia aproximou-se e ficou a vigiar.
Quando os últimos raios do sol desapareceram, as penas dos onze cisnes caíram por terra e eles transformaram-se em belos rapazes. Lúcia correu para eles, radiante de alegria. Reconheceram logo a irmã e cobriram-na de beijos e abraços. Que contentamento! Que felicidade!
A menina contou-lhes a sua triste história e eles narraram como tinham sido encantados pela cruel feiticeira. E o príncipe mais velho explicou: —  Durante o dia, temos a forma de cisnes. Mas, logo que o sol desaparece, voltamos a ser homens. E por isso, que temos sempre o cuidado de chegar a terra firme antes que anoiteça, pois, se estivéssemos voando nos ares, cairíamos de repente e morreríamos.
—  Onde moram vocês? – Perguntou-lhes Lúcia.
—  Num lugar muito distante daqui, além dos mares. A viagem para lá é muito longa. Voamos dois dias sobre o oceano. No meio do caminho, só existe um rochedo isolado entre as ondas. É tão pequeno que nele só há espaço para ficarmos de pé, apertados uns contra outros. Quando o mar está agitado, cobre-nos de espuma da cabeça aos pés. Contudo, damos graças a Deus por termos aquele pequeno rochedo.
—  Quantas vezes, por ano, podem vir até aqui? - Indagou a princesa.
—  Somente uma vez. E só podemos demorar-nos onze dias. Chegámos há dez dias. Por isso só temos um dia para ficar contigo.
A princesa e os irmãos ficaram a conversar durante muito tempo. Depois, vencida pelo cansaço, a menina adormeceu. Quando acordou, ouviu um forte bater de asas. Eram os irmãos que tinham voltado à forma de cisnes e que deviam passar o dia a voar.
Quando a tarde caiu, os cisnes voltaram e, assim que o sol desapareceu, retornaram à forma humana. Então, o mais velho dos irmãos disse para Lúcia:
—  Já que te encontrámos, não queremos perder-te. Vamos passar a noite fazendo uma rede para podermos levar-te connosco.
E começaram logo a trabalhar. Apanharam uma porção de ramos e folhas para construírem uma rede resistente e macia. Pouco antes de romper o dia, o trabalho estava terminado.
Lúcia sentou-se na rede que foi elevada no ar pelo bico dos onze cisnes. Durante todo o dia, os pássaros voaram sem parar. Já estavam exaustos de carregar a rede, mas não desanimavam. A menina tremia só em pensar que poderia anoitecer, sem que chegassem ao rochedo perdido no meio do oceano. Mas, finalmente, quando os raios do sol começaram a desaparecer, a pequenina rocha surgiu no horizonte.
Quando a noite chegou com o seu manto de estrelas, a menina e os onze cisnes pousaram no rochedo. Os príncipes retomaram a forma humana. Tiveram de ficar estreitamente unidos para não caírem no mar. Assim que o sol nasceu os rapazes tornaram-se, novamente, cisnes e , com os bicos seguraram a rede, bateram as asas, e levaram pelos ares a jovem princesa.
Após viajarem o dia inteiro, chegaram, finalmente, ao seu destino. Os irmãos viviam num penhasco, em frente ao mar, onde havia uma caverna, que era a sua morada. Dentro da caverna, que era muito limpa, viam-se camas de musgo bem arrumadas. Lúcia ficou ali com os irmãos que, nesse momento, acabaram de voltar à forma humana. Depois de conversar longas horas com os príncipes, Lúcia resolveu descansar. Mas, antes de dormir, rezou, pedindo a Nossa Senhora que lhe ensinasse, em sonhos, uma maneira de quebrar o encanto dos seus irmãos.
Quando ela adormeceu, Nossa Senhora apareceu-lhe no sonho e disse-lhe:
— Poderás quebrar o encanto dos teus irmãos. Mas, para isso, é preciso muita fé e perseverança. Existe perto deste penhasco, bem como nos cemitérios, uma urtiga que tem propriedades maravilhosas. Quando a apanhares, ficarás com as mãos inchadas e empoladas. Deves colher grande quantidade dessa planta e, com ela, tecerás onze túnicas. Quando estiverem prontas, atiras as túnicas de urtigas sobre os teus irmãos e, então, o seu encanto ficará quebrado. Voltarão, para sempre, à forma humana. Mas, para que tenhas êxito, é necessário que, enquanto estiveres tecendo as túnicas, não digas uma só palavra. Durante esse tempo, qualquer som que saia de tua boca ferirá como se fossem onze punhais cravados no coração de teus irmãos.
Quando Lúcia acordou, caiu de joelhos, agradecendo a Nossa Senhora o conselho que lhe dera. Depois, saiu da caverna e deu início ao seu trabalho. Começou a arrancar as folhas de urtiga que nasciam perto do penhasco. Quando o sol se pôs, voltaram os seus irmãos e perguntaram-lhe o que estava fazendo. Nem uma palavra de resposta. Os príncipes ficaram muito tristes, acreditando que a mudez da irmã era mais uma feitiçaria da madrasta. Mas, quando viram as mãos feridas e o trabalho que ela executava, sem parar, perceberam que fazia aquilo para quebrar o encanto deles. O príncipe mais novo pôs-se a chorar, beijando as mãos da irmã. E onde caíam suas lágrimas, desapareciam as bolhas e as feridas.
De repente, ouviu-se o som de uma trompa de caça. Era o soberano daquele reino que caçava nas proximidades da caverna. Ao ver Lúcia, ficou deslumbrado com  a sua beleza. E resolveu levá-la para o palácio real.
Lá chegando, a princesa retirou-se para o rico aposento que lhe haviam oferecido. Havia trazido consigo o molho de urtigas e, por isso, continuou a trabalhar, febrilmente, durante a noite. Havia de libertar os seus irmãos!
Alguns dias depois, o rei não pôde resistir à paixão que o dominava e pediu a menina em casamento. Lúcia que estava enamorada do jovem soberano aceitou o pedido, mas não pôde dizer uma palavra. Sabia que, se o fizesse, causaria a morte dos seus onze irmãos.
Realizou-se o casamento com grande pompa. O rei supunha que a sua linda esposa fosse muda e por isso redobrava os seus carinhos para com a moça. Tinha pena da sua triste situação. E Lúcia cada vez amava mais o rei e lamentava não lhe poder contar a sua triste história.
A moça já tinha tecido várias túnicas, quando lhe faltou as urtigas. Sabia que só podia encontrá-la no cemitério e, numa noite de luar, para lá se dirigiu.
Mas houve alguém que a viu sair do palácio e a seguiu. Era um fidalgo que odiava Lúcia, pois pretendia ver a sua filha casada com o rei. Por isso, quando viu a menina entrar no cemitério, foi avisar o rei, dizendo-lhe que a rainha talvez fosse uma feiticeira. O soberano ficou muito triste e resolveu vigiar a esposa.
Dias depois, tendo faltado, de novo, as urtigas, Lúcia tornou a ir ao cemitério. Mas desta vez, foi seguida pelo rei e outras pessoas. Viram-na aproximar-se de um túmulo, onde algumas aves de rapina estavam a devorar um cadáver. O rei não quis ver mais, julgando que a sua esposa era na verdade uma bruxa repugnante.
Como não podia falar, Lúcia não pôde defender-se e, por isso, foi condenada a morrer na fogueira. Quando os onze príncipes souberam disso, já era véspera da morte da irmã. Correram ao palácio para falar ao rei. Os guardas disseram que não podiam acordar Sua Majestade. Os rapazes insistiram, suplicaram, ameaçaram e já se dispunham a lutar com a guarda real, quando romperam os primeiros raios de sol. Os príncipes desapareceram, e viu-se um bando de cisnes esvoaçando, desesperadamente, por cima das torres do palácio. 
Chegou a hora da execução de Lúcia. A multidão enchia a praça principal da cidade. Daí a pouco, surgiu a menina numa velha carroça. Estava pálida e abatida, mas os seus dedos trabalhavam sem cessar. Já tinha, ao seu lado, dez túnicas prontas. Só faltava uma!
O carrasco quis jogar fora as túnicas, mas a moça olhou para ele com um ar tão suplicante que o homem não pôde recusar-lhe o último favor. A multidão, porém, cobriu-a de injúrias e avançou para despedaçar as túnicas.
Nesse momento, surgiram, fazendo grande barulho, onze cisnes lindíssimos, que começaram a dar bicadas terríveis nas pessoas que queriam atacar a carroça. Enquanto isso, a moça não parava de trabalhar. Finalmente, ficou pronta a última túnica.
Na ocasião em que o carrasco ia atirar Lúcia na fogueira, os onze cisnes  aproximaram-se para se despedir da irmã. Ela jogou, então, sobre eles as túnicas de urtiga. No mesmo instante, os cisnes transformaram-se em onze príncipes de uma beleza deslumbrante. Estava quebrado e encanto!
— Agora já posso falar. Estou inocente! - Exclamou a moça. E contou ao rei, que estava presente na praça, a sua triste história.
A pena de morte foi logo revogada. O rei ficou louco de alegria e cobriu a esposa de beijos e abraços. Houve muitas festas no reino. E a todas assistiram os onze príncipes, que passaram a morar no palácio, junto da sua querida irmã.

Contos Maravilhosos – Theobaldo Miranda Santos, Ed. Nacional


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


“UMA CONVERSA POR MÊS”

“UMA CONVERSA POR MÊS” NEM SABE O BEM QUE LHE VAI FAZER

DSC 0237“Uma Conversa por Mês” foi este o nome escolhido para as várias tertúlias que irão acontecer uma vez por mês, onde a conversa é rainha, claro que o debate também não podia ser dispensado, pois como em todos os temas surgem dúvidas e questões e as opiniões nunca são iguais de pessoa para pessoa.


Aqui são debatidos temas pertinentes, oportunos e motivadores fazendo com que as pessoas saiam de casa e num momento descontraído deixem os problemas de lado.
A primeira conversa ocorreu no dia 25 de Novembro pelas 15h30, no auditório da Biblioteca Municipal de Sousel onde os presentes aderiram e participaram ativamente nesta conversa.
Um projeto da Rede Social e da Universidade Sénior que contam com o apoio da professoras Zulmira Baleiro e Joana Emília reis, pretende assim contribuir para um estilo de vida mais saudável e motivador nesta etapa das suas vidas, promover encontros e conversas em que se reforce a solidariedade inter/intra geracional, criar situações de aprendizagem e informação sobre cidadania, saúde, bem-estar e lazer.
Conversas que vão proporcionar aos participantes momentos de entretenimento, cultura e interação entre todos, podendo assim, ocupar os seus tempos livres e alargar horizontes.
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REDES SOCIAIS

AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER


Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís Vaz de Camões
(Lisboa[?], ca., 1524  Lisboa, 10 de Junho de 1580)

DE TARDE


Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde


BARCA BELA


Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!


Almeida Garrett
(Porto, 4 de fevereiro de 1799  Lisboa, 9 de dezembro de 1854) 

BALADA DE NEVE


Batem leve, levemente, 
como quem chama por mim. 
Será chuva? Será gente?  
Gente não é, certamente 
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:  
mas há pouco, há poucochinho,  
nem uma agulha bulia 
na quieta melancolia 
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,  
com tão estranha leveza,  
que mal se ouve, mal se sente?  
Não é chuva, nem é gente,  
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía 
do azul cinzento do céu,  
branca e leve, branca e fria... 
Há quanto tempo a não via!  
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.  
Pôs tudo da cor do linho.  
Passa gente e, quando passa,  
os passos imprime e traça 
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais 
da pobre gente que avança,  
e noto, por entre os mais,  
os traços miniaturais 
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos... 
a neve deixa inda vê-los,  
primeiro, bem definidos,  
depois, em sulcos compridos,  
porque não podia erguê-los!


Que quem já é pecador 
sofra tormentos, enfim!  
Mas as crianças, Senhor,  
porque lhes dais tanta dor?!... 
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,  
uma funda turbação 
entra em mim, fica em mim presa.  
Cai neve na Natureza 
e cai no meu coração.


Augusto Gil